quinta-feira, 26 de agosto de 2010

.Pra guardar

Meu Mundo e Nada Mais - Guilherme Arantes

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha ...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais...

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura...

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia...

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer...
Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais

sábado, 10 de abril de 2010

:)

Berna, 2 de janeiro de 1947


Querida, Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perde o respeito a si mesma e o respeito às suas próprias necessidades - depois disso fica-se um pouco um trapo.
Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar e contar experiências minhas e dos outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Eu mesma não queria contar a você como estou agora, porque achei inútil. Pretendia apenas lhe contar o meu novo caráter, um mês antes de irmos para o Brasil, para você estar prevenida. Mas espero de tal forma que no navio ou avião que nos leva de volta eu me transforme instantaneamente na antiga que eu era, que talvez nem fosse necessário contar. Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu... em que pese a dura comparação... Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. Espero que no navio que me leve de volta, só a idéia de ver você e de retomar um pouco minha vida - que não era maravilhosa mas era uma vida - eu me transforme inteiramente.
Uma amiga, um dia, encheu-se de coragem, como ela disse e me perguntou: "Você era muito diferente, não era?". Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou esta calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinqüenta anos. Tudo isso você não vai ver nem sentir, queira Deus. Não haveria necessidade de lhe dizer, então. Mas não pude deixar de querer lhe mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você mesma uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.
Juro por Deus que se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia - será punida e irá para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não será punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Espero em Deus que você acredite em mim. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Isso seria uma lição para mim. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade de alma.

Tua Clarice

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

E mais um ano se passou ...

A verdade é que eu não queria que 2009 chegasse. Os últimos meses de 2008 foram um tanto quanto desesperadores por causa dos meus medos. Na verdade sempre tive medos, mas o medo da chegada de 2009 sem dúvida foi o maior de todos. Afinal, a faculdade iria terminar e a minha vida iria mudar. Foi assim também quando mudei de horário do curso de inglês, quando saí do ballet e do sapateado e entrei no jazz e quando terminei o colégio. Sempre me dava aquela sensação de "E agora?". Como seguir sem os meus amigos? Como deixar pra trás a rotina? Como não sentir falta e não desejar mais um ano como os outros pra tentar deixar pra trás os meus medos?

Medo de mudanças, medo do diferente e medo de arriscar, mas principalmente medo de não ser suficientemente boa, medo de não ser motivo de orgulho, medo de decepcionar. Não sei se consegui superar esses medos. Só sei que 2009 passou e eu posso dizer que não foi o pior ano da minha vida. Muitas coisas novas aconteceram e eu aprendi a não deixar meus medos me dominarem. De fato, não vou lembrar de 2009 como o meu melhor ano, mas com certeza foi um ano significativo, não só pela conclusão de mais uma etapa, mas também por ter sido o ano mais solitário. Justamente por não ter tantas pessoas ao meu lado eu fui obrigada a viver a minha vida sem a ajuda dos outros. E por isso 2009 foi o ano em que eu mais aprendi e mais precisei acreditar que eu seria capaz. Afinal, tudo só dependia de mim.

Apesar de ter sido o ano em que mais reclamei da minha falta de sorte, finalmente nesses últimos dias de 2009 eu consegui perceber que eu estava sendo muito injusta. O que eu mais tenho nessa vida é sorte! Tenho tudo, tudo mesmo! Tenho uma família que me ama e faz de tudo pra que eu seja feliz. Tenho amigos incríveis que me compreendem e estão sempre ao meu lado. E por mais que as coisas sempre deem errado no começo, no final elas sempre dão certo. Então pra que reclamar do que deu errado? O caminho nunca é fácil pra mim e durante o ano inteiro eu reclamei disso. "Eu não tenho sorte com nada!" Só que eu não percebia que a sorte estava exatamente nas coisas não serem fáceis. Só assim eu pude crescer e aprender a resolver meus problemas. Se tudo fosse sempre tão fácil eu nunca aprenderia.

E quando eu falo de sorte estou me referindo a algo muito maior que está sempre ali, mesmo que eu não possa ver, me oferecendo o melhor que Ele pode. E eu não tenho medo de parecer pretenciosa ao dizer que sou a preferida Dele. Sinto em todos os momentos que Ele está ali me fazendo compreender melhor tudo o que acontece. E ano passado Ele ganhou um ajudante. Talvez por isso que 2009 tenha sido tão positivo pra mim! Perdi uma pessoa mais que especial aqui, mas ganhei um anjo que com toda a certeza está em algum lugar olhando por mim e me dando forças pra superar os meus medos. E, apesar de não poder ver, tenho certeza que está se orgulhando, porque ele nunca exigiu que eu fosse a melhor. Simplesmente porque ele sempre me viu como a melhor. Pra ele, eu sempre fui boa em tudo, não importava quantos erros eu cometesse. Era assim que eu sentia e é assim que eu sinto agora também. Ignorando todas as pessoas que não acreditam nisso, eu sei que você está me vendo e eu não poderia deixar de falar de você. E não vou deixar de falar e de lembrar nunca na minha vida.

Enfim, de 2010 eu não espero nada. Aliás, essa foi umas das coisas que aprendi em 2009. Principalmente não esperar nada de ninguém. Só quero continuar perdendo os meus medos e ter as pessoas que eu amo perto de mim. Talvez isso já seja esperar alguma coisa de 2010, né? Whatever! A verdade é que com amor e SORTE, não tem como o ano ser ruim! ;)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Por não estarem distraídos

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos,
a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca
e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta:
eles respiravam de antemão o ar que estava à frente,
e ter essa sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo,
falavam e riam para dar matéria e peso
à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles,
a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não.
Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles.
Então a grande dança dos erros.
O cerimonial das palavras desacertadas.
Ele procurava e não via,
ela não via que ele não vira,
ela que estava ali, no entanto.
No entanto ele que estava ali.
Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas,
e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso.
Tudo só porque tinham prestado atenção,
só porque não estavam mais bastante distraídos.
Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham.
Tudo porque quiseram dar um nome;
porque quiseram ser, eles que já eram.
Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.
Tudo,
tudo por não estarem mais distraídos."

Sempre ela, Clarice Lispector.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um ano sem a sua presença

Um ano sem o seu sorriso; sem o seu mau humor. Um ano sem o seu carinho; sem as suas broncas. Um ano sem as suas brincadeiras; sem as suas conversas sérias.

Há um ano você se foi e, às vezes, ainda penso que você vai voltar. Que um dia, nesta vida, vou poder te dar um abraço. Mas eu sei que não dá. "Ele virou uma estrelinha", dizem os mais velhos aos mais novos. E embora eu não tenha mais 5 anos, acredito que seja assim. Tudo o que eu faço penso em como queria que você estivesse vendo. Burrice minha. Mas é que às vezes esqueço que você continua olhando por mim; a diferença é que agora eu não posso mais te olhar.

Mas eu sei que mesmo sem sua presença física os anos podem passar e eu nunca vou ter te perdido pra sempre. Porque esse um ano pode, sim, ter sido mais difícil e menos alegre, mas com certeza você estava 'aqui' em todos os momentos - mesmo que não perceptível - tornando tudo menos pior do que realmente poderia ser.